O TRABALHO TÉCNICO SOCIAL ALÉM-MAR: UMA EXPERIÊNCIA NA ÁFRICA
Maria de Fátima Santos Gottschalg
Sim, o Trabalho Técnico Social da CAIXA já atravessou o Atlântico e chegou até ao continente africano! A primeira experiência deu-se graças a um Acordo de Cooperação Técnica Internacional (ACTI) firmado pelo governo brasileiro e o governo da Namíbia, país localizado na costa leste do continente africano.
Por meio da área de desenvolvimento urbano e da Gerência de Relações Internacionais da CAIXA, as atividades aconteceram nos anos de 2006 e 2007 e o trabalho técnico social se fez presente!
A equipe de técnicos brasileiros responsável por implementar o ACTI foi cedida pela CAIXA. Formada por seis integrantes, era constituída por engenheiros, arquitetos, um sociólogo e uma técnica social, no caso, eu. À época lotada na Gerência de Desenvolvimento Urbano de Belo Horizonte (GIDUR/BH), tive a honra de ser indicada para integrar o grupo. Participaram também da comitiva brasileira representantes do Ministério das Relações Exteriores e da Embaixada do Brasil em Windhoek, capital da Namíbia.
O acordo previa a cooperação técnica entre os dois países para intervenções em três áreas: habitação para população de baixa renda; tecnologias construtivas alternativas e gestão de resíduos sólidos.
Os objetivos centrais da missão foram: identificar interlocutores, representantes e técnicos namibianos responsáveis pela gestão e execução de projetos nas três áreas; identificar organizações não governamentais, lideranças e grupos comunitários locais atuantes e ou envolvidos com trabalhos nas áreas afetas ao Acordo; identificar centros de pesquisa e desenvolvimento de tecnologias alternativas locais; levantar dados e informações locais — públicas, privadas e da sociedade civil organizada — sobre ações, programas e projetos nas áreas inerentes ao Acordo e, ao final, conjuntamente com técnicos namibianos e demais atores envolvidos, discutir potencialidades e carências locais, possibilidades de ação e elaboração de termos de referência e planos de ação para implantação pelo governo namibiano e seus parceiros locais, em cada uma das três áreas envolvidas.
Estando na Namíbia, o grupo de técnicos brasileiros dividiu-se em duas equipes para execução dos trabalhos de campo em cidades distintas. Por decisão do governo da Namíbia, a cidade de Rehoboth foi indicada para a implantação do ACTI na área de resíduos sólidos. As outras duas áreas específicas, voltadas para a construção de habitações populares e metodologias de construção não-convencionais, foi indicada a cidade de Okarandja.
A mim, única técnica social da comitiva e especialista em gestão de resíduos sólidos urbanos e à arquiteta Mara Alvim (lotada na Matriz da Caixa) couberam as interlocuções locais e os trabalhos de campo voltados para a execução das atividades atinentes a essa área específica, junto às comunidades carentes, aos parceiros e gestores públicos locais, em Rehoboth. Formávamos uma dupla interdisciplinar. Olhares diferentes, mas com o mesmo foco, tão necessário para se alcançar bons resultados em qualquer trabalho coletivo.
A capital da Namíbia, Windhoek, está localizada na região central do País, com uma população, à época, de cerca de 220 mil habitantes. Rehoboth localiza-se a 90 km ao sul de Windhoek. Tratava-se de uma cidade de porte médio, classificada como “town”.
Ambas as cidades contavam com população majoritariamente negra e, em grande parte, residente em assentamentos precários, nas periferias, distantes dos centros urbanos — como as favelas e aglomerados subnormais brasileiros — denominados localmente “cidades de lata”, devido à grande utilização de folhas de zinco na edificação dos barracos.
A língua oficial do país é o inglês. À época, na maioria das vezes, era falado com forte sotaque da língua nativa mais comumente utilizada, o Oshiwambo e, em alguns casos, também o Africâner. Entretanto, predominava a adoção de dialetos nas conversas coloquiais. Inúmeros e incompreensíveis à equipe de técnicos, éramos permanentemente acompanhados por um tradutor, que vertia as falas para o inglês, o que gerou certa dificuldade em nossa rotina de trabalho, dada a morosidade dos diálogos e entrevistas nas comunidades. Um ensinamento prático do trabalho comunitário: as relações sociais se dão sobremaneira através da fala. Entender e compreender o que o outro diz, a partir da sua própria realidade, é condição prioritária para o trabalho comunitário, especialmente o social. As dificuldades na comunicação foram, entretanto, superadas e cumprimos a nossa missão, ao nosso ver, com louvor!
A partir dessa primeira experiência no exterior, outros ACTI foram firmados pelo governo brasileiro com outros países, contando com profissionais da área de desenvolvimento urbano da Caixa Econômica Federal. E com técnicas e técnicos sociais presentes!
Ao final das visitas locais, dos trabalhos de campo e comunitários para conhecimento e troca de experiências locais e brasileiras, de interlocuções com os poderes públicos e as comunidades atendidas, finalizamos a participação no ACTI Brasil-Namíbia com a nossa dupla apresentando o Solid Waste Management Plan-REHOBOTH TOWN (Plano de Gestão de Resíduos – Cidade de Rehoboth), elaborado conjuntamente com os agentes locais.
Que experiência! Quanto aprendizado e possibilidades de troca de conhecimentos.
Igualdade na desigualdade, lá e cá!
Maria de Fátima Santos Gottschalg é assistente Social e Mestre em Geografia Urbana pela PUC Minas. Atuou como Técnica Social da CAIXA por quase trinta anos, tendo sido também coordenadora do trabalho social na Gerência de Desenvolvimento Urbano (GIDUR-BH) e, também, na Matriz-BSB, tendo se aposentado em 2011. Desde então, é sócia diretora da empresa CICLUS Projetos. Integrante da Socialcaixa desde a sua criação.
Sigamos juntos!